O Projeto Internet¹, financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado (FAPESC), parte da compreensão da Web como um espaço público de construção e discussão de cidadania a partir dos feminismos contemporâneos no Brasil. Para isso, o desenvolvimento de um pensamento crítico e interseccional é visto como abordagem fundamental para os usos da tecnologia e de suas variadas ferramentas, o que coloca em discussão o racismo, o sexismo e as desigualdades de classe reconhecidas neste espaço virtual.

Sabemos que a internet tem se constituído tanto como um artefato que permite a formação e a manutenção de redes sociais e culturais, à exemplo da organização de movimentos sociais e de diversas manifestações em todo o mundo, quanto como um fenômeno que alterou significativamente a dinâmica das relações humanas e suas esferas de sociabilidade. Ao mesmo tempo, percebe-se, também, como os feminismos trouxeram aportes para as dinâmicas do on-line, especialmente no que tange o debate ético e político, o que também engloba a discussão sobre regulamentação de redes sociais e a judicialização de crimes cibernéticos cometidos nestas plataformas.

Esta pesquisa, portanto, parte de uma perspectiva da História do Tempo Presente para analisar algumas das dinâmicas possibilitadas pela internet como alcance, interatividade, desinformação e marketing digital. Em um debate interdisciplinar que dialoga especialmente com as ciências sociais e as ciências da computação, busca-se a construção de uma metodologia de análise de dados coletados em vários espaços da Web, como as redes sociais, sites, blogs e demais canais de informação e comunicação.

O problema central deste projeto são os discursos colocados no campo da cidadania e dos direitos humanos, especialmente na perspectiva feminista, e os embates possíveis de serem percebidos neste espaço. Busca-se, também, reconhecer os principais pontos de embate entre os discursos feministas e os discursos antifeministas, analisando quais são os temas e direitos em maior disputa na esfera pública on-line.

A partir das pesquisas desenvolvidas desde 2020, participantes do Laboratório de Estudos de Gênero e História da Universidade Federal de Santa Catarina levantam e mapeiam dados quantitativos e qualitativos sobre problemas relacionados a ataques digitais, sobre a formação de comunidades on-line com viés democrático e antidemocrático, sobre iniciativas feministas e antifeministas de divulgação na internet, entre outras.

Com isso, percebe-se também a necessidade de criar diferentes formas de letramento midiático e enfrentamentos às violências digitais. Por este motivo, o projeto também se propõe à elaboração de materiais didáticos e informativos voltados à conscientização crítica da sociedade brasileira, cujo objetivo principal é reafirmar que a internet é lugar para todas, todes e todos.

1 Chamamos de Projeto Internet as seguintes iniciativas: “Internet como campo de disputas pela igualdade de gênero” (nº 12/2020), realizado entre 2020 e 2024, e “Internet segura com perspectiva crítica de gênero” (nº 38/2022), iniciado em 2023.